quinta-feira, 25 de junho de 2009

Alatriste

Alatriste



“Meu filho, você é um traidor e um incompetente.
Com os seus escrúpulos inoportunos ajudou inimigos de Deus e da Espanha.
Ações que serão purgadas pelos piores tormentos do inferno.
Mas, primeiro, vai pagar aqui na terra com a sua carne mortal.
Viu demais. Ouviu demais. Errou demais.
A sua vida, Capitão, já não vale nada.
É um cadáver que, por algum estranho azar, ainda se mantém em pé.”



Quando o filme saiu em DVD aqui no Brasil até fiquei interessado em assistir Alatriste. Não por saber da história ou nada deste tipo, apenas pela capa, e estive a um passo de assisti-lo, o que no final acabou não acontecendo, o filme foi caindo no esquecimento e por fim não o vi até semana passada quando ele passou numa dessas madrugadas na TV a cabo.

E digo que se o mundo fosse justo, este seria um dos filmes mais celebrados e conhecidos do cinema espanhol.

Alatriste, 2006
Alatriste de Arturo Pérez-Reverte (título alternativo)
de Agustín Díaz Yanes

com
Viggo Mortensen (Diego Alatriste)
Elena Anaya (Angélica de Alquézar)
Unax Ugalde (Íñigo Balboa)
Ariadna Gil (María de Castro)

Diego Alatriste é um soldado veterano do exercito espanhol que luta em Flandres. Com uma grande carreira militar ele é conhecido e famoso por seus atos, mas isso não o faz mais rico ou nobre, ele é apenas um soldado, sem maiores aspirações que viver e lutar. Durante um ataque, um companheiro de armas, Lope de Balboa, morre e em seus momentos finais pede para que Diego tome conta de seu filho.

Alatriste, honrado como é, pretende seguir o pedido apesar de se assustar em ser o responsável pelo futuro de um menino, e na volta a Madri o filho de Lope, Iñigo, vem morar com ele.

Entre guerras, Diego normalmente era empregado em serviços menores como espadachim ou coisas um tanto obscuras, como saques e serviços de mercenário para nobres mas sempre utilizando prudência e honra em seu fazer.

Um desses serviços é encomendado pelo Inquisidor Emilio Bocanegra, que contrata Alatriste e um outro soldado mercenário para matar dois “hereges” que estariam na cidade em determinado local à noite.

Durante a luta que se seguiu Alatriste acha a história dos hereges estranha e resolve poupar os homens. Isso acaba tornando-se o maior erro que ele poderia cometer e quando vem a tona a verdadeira identidade dos homens que Diego poupou, ele percebe que entrou no meio de uma disputa maior do que ele poderia imaginar. Com inimigos poderosos, Diego Alatriste precisa enfrentar guerras, golpes e sair de armadilhas feitas apenas para tentarem se livrar dele, isso enquanto cuida de Iñigo e tenta viver algum amor ao lado de atriz María de Castro sua amante de longa data.

- Trailer



- Crítica

Utilizando uma mistura de personagens reais e históricos Alatriste é um filme singular e marco do cinema espanhol. Acho estranho como ele pode ser tão mal visto, mal falado e tão amplamente criticado quando percebemos nele todos os elementos de um bom filme do gênero;

Temos uma ótima fotografia, com texturas e uma cenografia perfeitas que tem o poder de nos transportar para a Madri do séc. 17; apinhada de gente com pobres, escravos, comerciantes e transeuntes nas ruas de terra mostradas com realidade singular, além das cenas nos palácios, castelos, tavernas e lojas serem uma verdadeira imersão.

As batalhas, sejam as lutas de espadas homem-a-homem, sejam as batalhas campais nos mais inusitados lugares como em meio ao rio, num navio, em meio às planícies contra os franceses; tudo é muito bem dirigido e orquestrado com maestria por Agustín Díaz Yanes, que consegue manter uma história coerente tendo tantos fios para atar.

Os atores estão todos muito bem colocados, ninguém destoa. Seja Ariadna Gil interpretando a Atriz Maria de Castro, tanto no auge da beleza quanto na decadência, seja com Enrico Lo Verso, com o enigmático Malatesta, que não sabemos exatamente oque pensar dele até o final. As surpresas estão principalmente com o fato de vermos Viggo Mortensen num papel totalmente em espanhol (infelizmente eu não sei nada da língua de Cervantes, e não posso julgar se ele falou bem ou mal) mas que mesmo assim consegue passar uma credibilidade impar ao personagem; Banca Portillo, no papel de Emilio Bocanegra e não posso deixar de falar de Pilar López de Ayala, muito bem como a esposa de Malatesta, provando que não existem papéis pequenos, e sim interpretações pequenas.

As roupas, efeitos, cenários, e história bem cozida fizeram deste um filme surpreendentemente singular, uma vez que a mim foi extremamente mal recomendado sendo dito e repetido por críticos em inúmeros locais que o filme passaria “rápido demais” jogando o expectador de lado a outro sem a devida explicação. Contrariando esta opinião, achei o filme bem fundamentado, e mesmo contendo partes de cinco livros diferentes achei a história bem feita, agradável e com um ritmo coerente.

- Veredicto

Com uma boa ação, boa história, personagens bem construídos e lutas cinematográficas Alatriste é um marco do cinema espanhol que retrata com fidelidade o séc. 17 mostrando como poucos a Era de Ouro da Espanha, de seu apogeu à sua decadência. É um excelente filme, merece ser visto e é altamente recomendável.

- Trivia

O filme é de longe o filme espanhol mais caro já feito, tendo um orçamento de 24 milhões de Euros (30 milhões de dólares).

É baseado na série “Las aventuras del Capitán Alatriste” uma série de livros de grande sucesso na Espanha escritos por Agustín Díaz Yanes.

O filme foi quase feito anos antes com Antonio Banderas na direção e no papel principal.

Este não é o primeiro livro de Agustín Díaz Yanes a ganhar as telas numa grande produção. O primeiro foi O Nono Portal, (The Ninth Gate, 1999, Roman Polansky) que conta com nomes como Johnny Depp e Frank Langella no elenco.

O papel do Inquisidor Emilio Bocanegra é interpretado por uma mulher! A atriz veterana Blanca Portillo. É por isso que quando interpreta Agustina no filme Volver (Volver, 2006, Pedro Almodóvar), ela está com o cabelo curto.

O filme mostra partes de inúmeros livros da série, não se focando num volume especifico e inclusive na época que o filme foi feito não havia sido escrito ainda o volume que continha a batalha final mostrada na tela. O autor disse depois que quando chegou naquela parte da história ter se inspirado nas cenas do filme para escrever a ação.

Nota: sei que o filme não é medieval, mas por falta de outra classificação possivel inclui-o no marcador de filmes medievais.

Um comentário:

  1. Amigo, dois detalhes. O filme é moderno pois se passa ne Época Moderna. Mercantilismo, Monarquia Absolutista e etc.

    E a Batalha em Flandres era contra os Holandeses e não contra os franceses.

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