sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Che: Part One, Che O Argentino

Che: Part One
(Che, O Argentino)




“Garoto, ninguém é tão necessário ou indispensável nesta vida.”

Falam da produção deste filme desde 2004 quando saiu o Diários de Motocicleta de Walter Salles. Lembro que na maioria dos fóruns sobre cinema classificavam um filme “Made in USA” feito após Diários de Motocicleta, como uma tentativa automaticamente falha de retratar a história de Che.

Mas Steven Sorderbergh fez um excelente trabalho nesta história em duas partes que a primeira parte eu resenho aqui.

Che: Part One
de Steven Sorderbergh

com
Benicio Del Toro (Ernesto Che Guevara)
Julia Ormond (Lisa Howard)
Demián Bichir (Fidel Castro)
Rodrigo Santoro (Raúl Castro)
Catalina Sandino Moreno (Aleida March)

Che, O Argentino, conta como Ernesto “Che” Guevara se uniu a Fidel Castro, seu irmão e um grupo de 82 “loucos” saíram do México em direção à Cuba, para liberta-la. O filme mostra tanto a ação em si, retratando como Che subiu postos até se tornar comandante, enquanto intercala momentos da visita dele à Nova Iorque em 1964, onde conta a jornalista Lisa Howard como fora a revolução cubana.

- Trailer



- Crítica

É muito difícil assistir um filme sobre Che Guevara, pois, assim como tantas figuras ele assumiu um caráter praticamente lendário, fazendo com que qualquer coisa sobre ele ou sua vida possa soar falso, inumano ou extremamente idealista. Muitas vezes chegamos ao cúmulo de ver produções sobre sua vida que o mostram como um salvador de proporções bíblicas ou exatamente o oposto, um monstro tal qual Godzilla.

Diários de Motocicleta (Diários de Motocicleta, Walter Salles, 2004) talvez tenha sido a primeira tentativa de mostrar um Che humano, não ligado ao seu futuro revolucionário, apesar de extremamente apegado a seus ideais com um resultado singelo (mas às vezes um tanto forçado).

Já a película de Soderbergh consegue fazer um trabalho um pouco melhor do que a maioria das tentativas anteriores de retratar o Che mítico por um único fator, se atém apenas a uma visão, a do próprio Ernesto Guevara. O filme é baseado nas memórias escritas por Che, e, fazendo um filme fiel e honesto a elas como foi feito, o diretor foi extremamente feliz.

Temos uma trama mista, onde hora nos vemos com um Che pós revolução fazendo seus famosos pronunciamentos nos Estados Unidos hora vemos a revolução acontecendo diante de nossos olhos, em meio a selva cubana mostrando passo a passo como o exercito revolucionário passou de Sierra Maestra expandindo seus domínios até chegar a Havana.

A escolha dos atores foi perfeita. Benicio Del Toro como poucos, encarnou o personagem sendo a imagem viva de Ernesto Guevara que vemos vendida em camisetas e adesivos em todos os lugares e mais que isso, ele conseguiu interpretar o líder muito bem (talvez passando um pouco mais de credibilidade a ele quando mais velho do que quando mais jovem).

Demian Bichir como Fidel também está excelente convencendo perfeitamente com a imagem do ditador cubano que todos conhecemos. A única ressalva em sua atuação seria justamente o fato de Bichir ter claramente se inspirado a falar como o Fidel publico que conhecemos, fazendo que o personagem soasse às vezes um tanto quanto artificial, uma vez que fala, mesmo para uma pessoa, com os trejeitos e a entonação como se estivesse falando em seus intermináveis discursos. Isso não chega a ser uma falha, uma vez que faz com que todos que assistam consigam ligar fortemente o personagem à imagem mental que temos dele agora, no entanto, soa forçado como uma forma de retratação fiel do mesmo.

Rodrigo Santoro não se destaca como Raul, mas talvez seja este o real papel do irmão de Fidel durante a revolução. Já Catalina Sandino Moreno como Aleida e Julia Ormond como Lisa Howard completam o elenco com papéis sólidos e bem interpretados.

Ressaltamos que a produção foi feliz com as locações, todas muito bem preparadas e convincentes; das cidades às florestas podemos dizer que o ambiente e clima criados para a passagem da trama foram perfeitos criando um pano de fundo onde a história pode se desenvolver bem. Artisticamente, o balanço entre colorido e preto e branco foi muito bem colocado mostrando um flash back às avessas, onde o “futuro” das pós revolução aparece preto-e-branco e o passado revolucionário é retratado em cores vivas com uma assinatura artística interessante e ajudando na criação do clima.

A única ressalva que teria sobre a película vem não pelo filme em si, mas justamente pelo realismo que ele pode passar. A um desavisado poderia soar até como documentário e nota histórica e isso de todo jeito não acontece e não seria nem prudente e nem real de se assumir. É um filme, um filme bem feito e que justamente mostra a visão do personagem título da situação, e apesar de seria, esta única visão mostra tudo que não diz respeito a revolução ou seus reflexos com uma simplicidade insustentável.

- Veredicto

O filme sobre o Argentino mais famoso do mundo é bom, bem construído e bem feito em todos os sentidos técnicos e que dizem respeito a proporcionar entretenimento contando uma história. Por este fator é um filme que vale a pena ser visto e altamente recomendável.

- Trivia

O filme foi produzido, entre outras pessoas, pelo próprio Benicio Del Toro.

Os filmes Part I e Parte II foram filmados juntos, sendo separados apenas por uma questão de tempo. Ambos foram passados juntos sob o título único de CHE no festival de Cannes de 2008.

Ryan Gosling iria fazer o papel de Beni Ramirez e chegou a ter aulas de espanhol, mas houve complicações durante o processo de filmagem e por isso ele abandonou o projeto.

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