segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Gomorra

Gomorra
(Gomorra)



Assisti Gomorra apenas por um motivo. Sabia do filme, sabia de sua existência, mas não me interessei por ele até estar num cinema e ver àquela que é a mais antiga forma de propaganda de filmes: o Trailer.

E não me decepcionei, o filme é excelente.

Gomorra (2008)
de Matteo Garrone

com

Salvatore Abruzzese (Totò)
Gianfelice Imparato (Don Ciro)
Carmine Paternoster (Roberto)
Salvatore Cantalupo (Pasquale)
Marco Macor (Marco)
Ciro Petrone (Ciro)

A policia invade um conjunto habitacional caindo aos pedaços, onde as pessoas se amontoam uma sobre às outras em meio a várias passarelas de concreto. Os bandidos locais já haviam dado o sinal e quase todos conseguem fugir, apesar de um dos marginais, enquanto corria da policia, deixar sua arma cair. Um menino assiste tudo através de uma fresta em sua janela.

O menino atravessa a rua, pula muros e evita a policia para pegar a arma. Ele a devolve ao bandido que o paga algum dinheiro, mas o garoto não parece interessado nisso. “Como posso trabalhar para vocês?” e o traficante apenas sorri dizendo o irá procura-lo quando chegar o momento.

A cena acontece na Itália, mas não é diferente do Brasil onde vemos tantos jovens serem arrastados para a criminalidade por necessidade, falta de emprego, glamour, esperança de dinheiro rápido e às vezes por total possibilidade de escolha. O garoto da história é Toto e é assim que ele entra para a Camorra, a máfia napolitana.

Passando em diversos planos, entre outras coisas, Gomorra procura mostrar como se dá o recrutamento de novos membros da Camorra, quer seja como o garoto Toto ou o universitário desempregado Roberto; como são tratados àqueles que saem da linha como os bandidos de terceira categoria Marco e Ciro; e, principalmente, até onde chega sua influência, indo da alta costura Italiana até o acobertamento de resíduos tóxicos.

- Trailer



- Critica

É impossível ver Gomorra e não traçar um paralelo com Cidade de Deus (Cidade de Deus, Fernando Meirelles, 2002), uma vez que ambos os filmes falam sobre a criminalidade, como se entra nela e como se vive em meio a ela. Ambos os filmes mostram que a criminalidade é um problema de complexo, mas de caráter universal; a diferença entre ambas as realidades é, talvez, apenas a organização.

Mas na mesma medida da igualdade os filmes são diferentes. Cidade de Deus ainda é uma história sobre esperança, sobre como o personagem principal, Buscapé, consegue escapar da realidade de violência e pobreza ao seu redor, mesmo tantos e em tanta quantidade ficando no caminho. Gomorra, ao contrário, é um filme desalentador, sem personagens engraçados ou virtuosos e em nada tem em termos de esperança.

Os atores (em maioria na verdade, não-atores) são excelentes em passar a realidade crua do filme, sejam eles donas de casa cujos maridos foram presos e agora recebem dinheiro da máfia para se manter, sejam crianças já no crime, não vemos no filme nenhuma brecha ou reflexo de má atuação, todos são eles mesmos, os personagens e criam uma atmosfera perfeita a um filme que tanto exige para ser verossímil.

A fotografia também foi finamente trabalhada, as tomadas são áridas como quase nunca vemos num retrato da europeu. Outros filmes italianos, mesmo àqueles com histórias pesadas, sempre deixam retratar a Itália bela, exuberante. No filme de Matteo Garrone não, a decadência de valores que vemos em alguns dos personagens se refletem na paisagem; ouso dizer que não temos nenhuma passagem de beleza (numa Itália que todos sabemos ser bela) as ruas são mal cuidadas, o conjunto habitacional (mesmo sem contar o grau de pobreza que poderia chocar um brasileiro) é decadente e até mesmo Veneza é mostrada apenas como uma sucessão de tons cinzentos.

Baseado no livro de Roberto Saviano e dirigido com maestria por Matteo Garrone Gomorra choca, não só pelas cenas, mas por tudo aquilo que a Camorra faz. O filme acaba por nos revelar o quanto da máfia nos toca, estendendo seus tentáculos desde a família mais humilde, passando pela alta costura Italiana e indo até mesmo à reconstrução do WTC.

- Veredicto


Por um conjunto consistente, uma história que prende, um roteiro bem construído e por falar de um problema ainda tão atual, Gomorra é um filme indispensável, merecendo ser visto, e, principalmente, ouvido como o alerta que é.

- Trivia

Tanto o Diretor, Matteo Garrone, quanto o autor do livro e roteirista do filme Roberto Saviano sofreram inúmeras ameaças da Camorra por expor a organização. Atualmente estão em proteção permanente pela policia Italiana.

Reforçando o caráter polêmico do filme três atores que participaram das filmagens: Giovanni Venosa, que interpreta um dos chefes locais da máfia na película, foi preso por trafico de drogas e extorsão; Salvatore Fabbricino, que representava um jovem que fazia trafico no filme, foi preso sob a mesma acusação de seu papel e Bernardino Terracciano, que faz o papel de “Tio Bernardino” foi preso por envolvimento no assassinato de imigrantes africanos.

No filme Scarlett Johansson aparece (e é creditada como Imagens de Arquivo) usando a roupa supostamente feita pelo Mestre Pasquale.

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